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DESCARTO-ME | em coro

 

Eu descarto

Tu descartas

Nós acabamos com o mundo

 

Descarto-me | em coro é um desdobramento da ação Descarto-me e foi pensada dentro da Residência “Exercícios Compartilhados V” do Núcleo Artérias.

Para a realização da ação, foi divulgada uma convocatória convidando artistas e interessados a experienciar a performance. A primeira ação aconteceu em frente a Galeria Olido em São Paulo-SP. Escolhemos nos posicionar próximos a um amontoado de lixo produzido pela própria galeria, como se fizéssemos parte do todo. Preparei os 14 performers para depois me posicionar. A proposta de ação era nos movimentarmos lentamente, como se fizéssemos parte do mesmo mar, intercalando, entre cabeça e membros, as partes que iriam ficar para fora do saco. Tivemos algumas dificuldades quanto espaço que tínhamos dentro do saco, o que ocasionou problemas com a movimentação do coro. Então resolvemos mudar o plano de ação para apenas permanecer dentro do saco. O tempo de duração foi de 01 hora.

 

 

Olhar de dentro: calmaria diante do ritmo acelerado da cidade de São Paulo-SP, dilatando o tempo e deixando o corpo calmo para contemplação. Sensação de ser um corpo amorfo que faz parte do todo.

 

 

Olhar de fora: Por meio do jogo entre corpo e imagem, a ação pretende levar às ruas uma desconexão dos padrões imagéticos encontrados nos espaços urbanos. O intuito é tentar desestabilizar e transformar a paisagem mental dos transeuntes, nem que seja por alguns segundos. 

Esta ação contou com a parceria dos lixo-performers:

Camille Souza, Chico Américo Dourado, Djalma Moura, Domingas, Hugo Corrêa, Igor Luis, Lidiane Angelo, Luana Vieira, Maira Nunes, Nathalie Brunetti, Sabrina Fagundes, Samantha Nascimento, Silvia Brunello e William Fernandes.

 

Abaixo seguem os depoimentos dos performers.

RELATOS DOS PERFORMERS

 

Silvia Brunello - Palhaça

Achei única e bem prazerosa a experiência de estar ensacada. Senti que o cômico esteve sempre presente e gostei muito de olhar as pessoas passando apressadas e parando pra ver a gente. Gostei muito também de olhar para a minha cidade, São Paulo, de uma forma que nunca olhei, sentada no chão contemplando os prédios antigos, os ônibus e as pessoas, elas apressadas e eu em um ritmo muito mais lento! Adorei a experiência e esse confronto do nosso tempo lento e da cidade rápida que não para! 

 

Nathalie Brunetti - Atriz

Obrigada por ter aberto sua experimentação a nós, muito obrigada pela experiência, foi demais, sinto ter vivido um tempo diferente, senti que pude perceber um pouco outras situações de estar naquele lugar, do lixo, da rua, do desprezo, do descartado, jogado fora mesmo pela ferocidade do consumo e talvez pelo nosso tratamento inadequado de tudo, que culmina no lixo, na sujeira, lugar que ninguém quer estar. Queria ter ficado mais um pouco de tempo, sai muito com essa vontade!

 

Igor Luis - performer

Enquanto a performance acontecia eu ficava me perguntando, o que seria está ação? Seria algo sobre sustentabilidade, para conscientização da forma como lidamos com o lixo,  ou Descarto-me seria para que eu fizesse uma limpeza em mim? Encarei a segunda opção, estava com sentimentos ruins, energias não muito boas e então decidi descartá-los. Enquanto passavam os transeuntes eu percebia de que isso o que eu estava fazendo ali não ficaria nada claro para eles, de que eles compraria a ideia da sustentabilidade, então decidi comprar essas duas ideias. Tenho que dizer aqui que achei incrível os acontecimentos que ocorreram, o monte com lixos, o caminhão que vinha pegá-los, isso tudo fez crescer a ação, deu potência à ela. Os olhares eram diversos: atentos, curiosos, empolgados, desprezo. Tudo se misturou e acontecia muita coisa dentro de mim. Só senti uma vontade de me relacionar com os outros performers, só não sabia até ponto eu poderia ir.

 

Hugo Corrêa - advogado

Eu achei que a mensagem que se queria passar inicialmente foi bem interessante, apesar de ver que algumas pessoas que observaram a Performance tiveram uma outra interpretação da que inicialmente estava proposta pela Natália, mas é assim mesmo, a arte cada um interpreta à sua maneira.

A impressão que marcou em mim foi a reação de apoio de alguns transeuntes que passaram na hora, mesmo sendo um trabalho abstrato as pessoas apoiaram, sinal que as pessoas da cidade estão evoluindo de forma positiva.

Fotos de Jônia Guimarães

Descarto-me em coro | CARIRI (14 de Novembro de 2017)

Cariri é uma terra mística, que se localiza ao sul do Ceará, e é marcada por vários acontecimentos históricos marcantes, entre eles as histórias do Padre Cícero e do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto. Estas vivências marcaram na cultura caririense uma espécie de fábula misteriosa. Práticas como penitencias, pagamento de promessas e sacrifícios físicos fazem desse espaço um local propício para se trabalhar a espiritualidade. Assim, romeiros de vários lugares do Brasil, visitam a cidade para tentar redimir seus pecados ou pedir milagres ao Padre Cícero, hoje representado por uma enorme estátua. 

Para a ação Descarto-me em coro no Cariri passamos por processos que se desenvolveram: apresentação da pesquisa sobre a sociedade do consumo (filmes e debates), visita ao lixão de Juazeiro do Norte e realização de duas ações (nas cidades de Juazeiro do Norte e Crato).

Ao nos colocarmos em posicionamento (dentro dos sacos de lixo e em formato de coro), logo se formou um acúmulo de pessoas que se questionavam sobre a ação. Enquanto estávamos ali parados, os transeuntes tentavam entender o porquê dessa situação. Alguns perguntavam se era promessa, outros entendiam e tentavam explicar. Uma senhora chorando, pediu para nos tirar dali. Uma das produtoras do evento veio falar comigo, pois não queria deixar a senhora ir embora sem ter uma resposta. Então abri para o diálogo. Conversei com ela, tentei explicar o porquê da ação. Disse que estávamos produzindo muito lixo, que não tinha mais onde guarda tamanha quantidade, por isso precisávamos conversar para discutirmos o que poderíamos fazer a respeito do assunto. Ela me deu várias alternativas, disse que era "só enterra" (expliquei porque não dava certo), "só queimar" (falei sobre a camada de ozônio) e então ele me informou que não sabia o que era a camada de ozônio, que tinha estudado um ano da vida dela, que sempre trabalhou na roça e que hoje catava lixo para sobreviver. ​

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