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PACHAMAMA

 

   

O que aconteceria se Pachamama, deusa da natureza dos Andes Peruanos, se levantasse e caminhasse? E se sua pele fosse composta pela superfície terrestre, carregando consigo tudo que nela existe? Como ela se movimentaria? Quais seriam as marcas sobre a sua pele?

O incômodo com a concretude das cidades, a desenfreada produção de lixo e a praticidade dos tempos me fizeram querer buscar entender fisicamente como, hipoteticamente, a natureza (flora e fauna) se sente com as interferências humanas na terra. Criei um ritual para concretizar essa ação e chamei Patrícia Passos, cenógrafa e figurinista, para criamos uma indumentária que pudesse fazer meu corpo se sentir sufocado, aprisionado e deformado em relação ao lixo. Conseguimos chegar nesses sentimentos através de pesquisa de imagem, onde animais estavam presos, sufocados e até mortos por ter ingerido ou se prendido a resíduos plásticos espalhados pela natureza.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Processo ritualístico:

 

Acumulo de resíduos sólidos: Resolvemos acumular todo e qualquer resíduo sólido produzido em 2 semanas. Acabamos por envolver familiares e amigos próximos neste trabalho, o que resultou na reverberação sobre a reflexão da quantidade de material, sem utilidade, que produzimos diariamente. Este trabalho não era feito apenas com o lixo de casa, ao sairmos para comer, dançar, passear juntávamos o nosso lixo. Cada detalhe era guardado, embalagens, canudos, latas, copos descartáveis e etc. A quantidade de lixo era abundante e isso incomodava muito, pois nossa sociedade não se relaciona diretamente com seu lixo, o contato é muito rápido, o que acaba nos deixando ignorantes quanto a esta situação.

 

 

Criação da indumentária: o processo foi intenso. Compramos uma rede de pesca, pois além dela ser um ótimo suporte para fixarmos o lixo, simbolicamente iria também nos dar um significado de ter pescado todo aquele resíduo, ao invés de alimento. Todos os dias eu e Patrícia nos encontrávamos para desenvolver a indumentária, processo artesanal que aprofundou mais ainda a nossa relação com a matéria prima, o lixo.

 

 

O caminhar: Para a ação me propus um roteiro aberto, onde sabia o lugar de início e de fim, o meio era livre. A indumentária era áspera, pesada e prendia em todos os lugares, o que tornou difícil o caminhar. Comecei a olhar profundamente para as pessoas que passavam por mim, o que acabou por ocasionar fortes e emocionantes encontros, onde pessoas vinham até mim para falar palavras de apoio a causa, com um choro incontrolável. Nunca achei que fosse me emocionar, mas chorei ao ver os olhos marejados de lágrimas de um morador de rua, que me seguiu durante todo o percurso. E nesse caminhar meu corpo foi se aprisionando e, impossibilitada de voltar a me levantar, voltei ao ponto de partida me arrastando.

 

Praticidades...

Parte cidades...

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